Em seu segundo livro, o autor usa de humor, astúcia e um toque de acidez, além de prefácio assinado por Luiz Antônio Simas
Gabriel Cardoso lança livro de crônicas. Foto: Divulgação
No dia 19 de outubro, chega às livrarias do Rio de Janeiro e também como e-book para todo o mundo, pela editora Luva, a obra ‘O Paraíso dos Quase Lá’, livro de crônicas de Gabriel Cardoso, com 52 textos que trazem a ótica do “quase“ de diferentes formas. Considerado por muitos uma grande promessa da literatura nacional, o autor traz relatos que se dividem entre delírio e realidade, mas retratam a vida como ela é em uma leitura leve e reflexiva ao mesmo tempo. Com diálogos muito bem construídos, intensos e com boa dose de humor - que são marcas registradas do autor -, o cronista retrata quem quase chega a algum lugar, quase morre, quase vive, quase consegue, quase não consegue e por aí vai.
“Quando senti que era hora de publicar de novo, comecei a fazer alguns estudos e costurar algumas ideias. O Dani, que é meu editor, foi quem percebeu que os textos estavam indo por esse caminho e, depois que me falou, o projeto ganhou força. Comecei a, de fato, criar os textos em cima dessa estética do Quase. Às vezes explícito demais, outras implícito, às vezes o Quase é o mote, em outras é só um pano de fundo, sabe? É um trabalho muito focado no humor e tem alguns pontos de reflexão também. Com a ideia do Quase, não é sobre você sempre chegar a algum lugar, não é sobre você ficar sempre feliz, a ideia de Quase também está presente nesse movimento não linear, de conduzir você por vários efeitos emocionais, de você se pegar refletindo sobre algo, ou rindo também, tem um pouco de cada lado nesse livro”, conta Gabriel Cardoso.
A primeira crônica da obra, Aflição, explora a falta de assunto, que começa como um desabafo do próprio autor. Mas, no decorrer da narrativa, o leitor é absorvido pelas cenas do cotidiano descritas na folha e sorri com os toques de acidez, humor e sagacidade, criando ali uma conexão quase instantânea com o autor. Comida, saudade, subúrbio, luto, família e nostalgia também estão presentes nas páginas. Há, ainda, uma crônica que leva o título do próprio livro. Ela começa como um resgate dos sambas-enredo que “quase chegaram lá” nas escolas de samba do Rio de Janeiro, mas se desenrola como um reconhecimento - com certa reverência - a todo o universo de coisas descartadas (ou não vencedoras) já criadas pela humanidade.
Todas as crônicas do livro pertencem a um desses cinco elementos: contemplação, busca/vontade, corre, quase e descanso/aceitação. Os textos despertam variados sentimentos e emoções no decorrer das páginas, ao perpassar por diversos temas de forma muito bem pensada, de modo que os assuntos mais complexos e delicados estão intercalados com aqueles mais descontraídos, das pequenezas do cotidiano. Mas todos trazem o olhar aguçado do escritor para as singularidades da vida humana como âncora, e sempre bem humorados para dar um toque de leveza à leitura.
Luiz Antônio Simas - professor, escritor, compositor e palestrante, ganhador de dois prêmios Jabuti -, é quem assina o prefácio. Ele destaca que “é entre as esguelhas de humor e uma compaixão pelas coisas humanas manifestadas nas entrelinhas, que as crônicas de Gabriel passeiam, sem estardalhaços desnecessários, por aquilo que há de nos redimir: a miudeza da vida que, ainda que a morte insista, não cessa de acontecer”. Coincidentemente, Luiz intitulou o prefácio de Miudezas, nome do primeiro livro publicado por Gabriel, justamente por ser uma característica forte na escrita do cronista esse olhar para as pequenas coisas da vida, que muitas vezes passam desapercebidas por nós na correria do dia a dia.
Miudezas é um livro de crônicas também, com foco nas pequenas coisas do cotidiano, porém mais passional, publicado em 2018 pela editora Luva. Resultado de uma junção de textos escritos ao longo da vida do autor, a obra traz muito da intimidade dele, da sua relação familiar com a perda do pai ainda jovem, além de trazer outros pontos que permearam a sua vida, como samba, literatura, brasilidades e subúrbio. Segundo o autor, por conta da sua experiência com a morte do pai, o trabalho encontrou eco em muitas pessoas que tinham vivido perdas.
“Escrever pra mim é uma forma de sobrevivência. Foi a escrita que me tirou da depressão, quando eu perdi meu pai. A única coisa que conseguiu me aliviar e me tirar daquela zona cinzenta em que me encontrava foi isso. Quando comecei a colocar meus demônios para fora é que a minha cabeça começou a ficar mais limpa e eu voltei a viver socialmente”, revela Gabriel. Como o livro trouxe muito dessa bagagem emocional do autor, muitas pessoas se conectaram com ele dizendo que os textos ajudaram na relação delas com o luto que viviam.
Enquanto ‘Miudezas’ traz esse forte tom emocional, ‘O Paraíso dos Quase Lá’, como se pressupõe a ser “quase”, é quase um livro de humor, como classifica o autor. Tem muito da vivência do dia-a-dia, mas toca em temas por vezes um tanto mais complexos, com sensibilidade e humor, que pedem um olhar mais apurado do leitor. Ainda assim, é uma leitura leve, reflexiva e com olhar delicado para a humanidade.
“Espero que as pessoas possam se divertir lendo esse novo livro, encontrando leveza no dia a dia que, pode ser bem pesado. Por isso mesmo fiz questão de trazer o humor e a ironia mesmo nos temas mais delicados que instigam a refletir, de modo que a leitura possa descontrair um pouco e fazer olhar com mais calma nesse mundo tão veloz”, destaca o escritor.
Sobre o autor:
Gabriel é jornalista, professor, escritor, compositor, fotógrafo e palestrante. Mestre em Comunicação e especializado em Literatura Brasileira pela UERJ. Cria do Méier, volante da pelada, flamenguista, espírita, vilabelense e de esquerda. Combinação que nem sempre dá certo, mas que pelo menos rende boas histórias.
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